comnazare
Gostaria de reagir a esta mensagem? Crie uma conta em poucos cliques ou inicie sessão para continuar.
comnazare

espiritualidades


Você não está conectado. Conecte-se ou registre-se

Mais um dia novo... de deserto

Ir para baixo  Mensagem [Página 1 de 1]

1Mais um dia novo... de deserto Empty Mais um dia novo... de deserto Qua 2 Abr - 10:31

Rui Melgão



Não estamos em inicio de ano mas que importa, este texto é sempre actual em qualquer periodo do ano... aqui vos deixo um texto de uma rapariga da Diocese de Évora...
-----------------------------------------------------------------

Mais um dia novo... de deserto

O que vai ser este ano? O que quero que seja? Como quero viver cada dia? E este ano temos mais um dia... mais um dia novo... de deserto?
São 366 dias para estrear. É mais um dia do que tem sido habitual desde o ano 2000. Temos mais um dia... novo. O que fazer com ele? O que quero dele?

Dizemos e ouvimos dizer “foi mais um ano que passou” e desejamos “espero que o próximo ano seja melhor que o que passou”, como se a forma como correu o ano anterior tivesse fora de nós e não dependesse da nossa atitude perante os acontecimentos vividos nesse ano.

Devo dizer que os nossos desejos são muito acanhados. Talvez porque preferimos acreditar que não depende de nós o ano ser bom ou mau, ou talvez porque preferimos acreditar que tudo dependerá da sorte com que começamos este ano, da saúde que tivermos, do dinheiro e da paz. É isto que costumamos dizer “desde que haja saúde (primeiro que tudo), dinheiro e paz, já é muito bom”. Que acanhados que somos!

E que deserto!
É este o deserto da nossa vida. É este o deserto de que falo. Só há aridez, miragens e ilusões. Só acredito nas tempestades de areia e no vento forte que me derruba. Por isso dizemos com desânimo “foi mais um ano que passou” com várias tempestades, para além de: ter aumentado o recheio do meu guarda-fato (por ter caprichado em estar sempre na moda), de ter mantido aquele relacionamento a meu proveito (que é seguro, cómodo, não me deixa só), de ter finalmente comprado um carro novo, de ter sido reconhecido por aquele projecto ou trabalho que realizei, etc, etc.

Que deserto! Que vento seco! Que aridez!
É isso que quero este ano? Não ter dor alguma, e investir as minhas energias em mais uma blusa, mais um carro, mais uma honra, mais um despique, mais um filme, mais uma música, mais um beijo? Só isto?
Tudo isto é bom, é muito bom, quando usado “tanto quanto”. Tanto quanto me ajude a atingir o maior bem para o qual fui criado, tanto quanto me ajude a ser profundamente feliz, sem prisões, sem dependencias, em liberdade.

Cultivar uma boa atitude perante o dia-a-dia é a água onde poderemos saciar-nos neste deserto. Viver o momento presente, acreditando que basta o que tenho hoje para ser verdadeiramente feliz, sem viver com ansiedade pelo futuro, nem com pesos do passado. Acreditar que tenho todos os recursos à minha disposição para ser feliz no dia de hoje, sem pensar “e se tivesse assim; e se fosse assado”.

Ou seja, aproveitar esta oportunidade como um tempo novo, um ano novo, de ter mais um dia novo para me recriar, para me melhorar, para me superar, para me descobrir sem medos, sem fatalidades ou destinos, sem previsões ou esteriótipos de outros, é começar melhor. Começar mesmo.

E se o ano é bom ou mau dependendo do que construí dentro de mim, então de que estou à espera? Vamos olhar e ver, aquilo que tenho, o que sou, o que gostaria de ser, o que gostaria de melhorar, de fazer render, onde investir.

Fazer um balanço do ano que passou e perceber o que posso fazer para o próximo ano, de modo a ser um ano realmente melhor que o anterior, revela-se essencial para se concretizar o meu desejo mais profundo para um ano novo.

Recolher-me, encontrar-me no silêncio, no escuro do meu interior, não é de forma alguma uma perda de tempo, é uma riqueza inexorável para quem já descobriu essa atitude de contemplação e os frutos que provêm dela. Só a sós, na minha verdade, onde não há máscaras a pôr, defesas a intervir, diante de Deus, é que posso perceber o que posso fazer para o ano ser melhor, para o dia ser melhor, para eu ser melhor.

Podemos aprender com a acção daquele rapaz que colocou ao dispor de Jesus os seus bens, que perante as necessidades de uma grande multidão que O rodeava disse a Filipe: “Onde compraremos pão para dar de comer a esta gente?” Jo 6, 4-5.
E o rapaz tendo consciência do que possuia, dos bens que tinha, dos seus próprios dons, ofereceu-os, disponibilizou-os. Disse Pedro:”Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixes, mas que é isso para tanta gente?” Jo 6, 8-10.
E mesmo aquilo que aparentava ser tão pouco tornou-se muito. Todos ficaram saciados e ainda sobrou.

È tão simplesmente isto que Jesus quer fazer connosco, saciar-nos, cumular-nos de Graça e de maiores bens, se nos colocarmos em disposição de o recebermos. Tudo aquilo que temos e somos se aplicarmos à disposição do Senhor, Ele multiplica em abundantes Graças.

Essa é a maneira como poderemos viver com abundância este novo ano, oferecendo ao Senhor tudo, tudo quanto temos, até aquelas milgalhas do “pouco” (o tão pouco tempo, o tão pouco amor, o tão pouca vontade). Ele encarregar-se-á de multiplicar aqueles que são os nossos dons e distribuir Graças em abundância para mim e para os outros.

Vamos ter esta atitude. Vamos dar a Jesus o pouco que temos e somos, as alegrias e as dores, os trabalhos e os descansos, a riqueza e a pobreza, as honras e as desonras, aquilo que lhe podemos oferecer.
Vão ver que não se arrependerão e que com toda a certeza este ano vai ser um grande ano, porque vivido cheio da abundância das Graças de Deus, e neste deserto encontrarás aí o teu oásis.

Então, venha o que vier, com esta atitude olho com esperança para o novo ano e alegra-me-ei por este ter mais um dia, mais um dia para ser verdadeiramente feliz, esteja eu como estiver, estou no fundo feliz. Mais um dia novo... de abundância!

Ajudaria muito se aquele recolhimento que falava anteriormente se repetisse nas nossas vidas. Que não fosse só agora com este pobre texto, ou mesmo só ao começar este ano, que talvez acontecesse uma vez no mês, ou porque não duas vezes. Será tão difícil arranjar espaço e tempo para uma vez na semana? E se virmos bem se calhar todos os dias em quinze minutos… Que bom seria! Será este o meu descanso no deserto desde ano novo?
Desejo-vos a todos um ano novo em abundância!


Sugestão de leitura:
Vasco Pinto de Magalhães,sj; NÃO HÁ SOLUÇÕES, HÁ CAMINHOS; Edições Tenacitas.



7 de Janeiro de 2004

Estela Cameirão

Ir para o topo  Mensagem [Página 1 de 1]

Permissões neste sub-fórum
Não podes responder a tópicos