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Imagens e ditos curiosos-Frei Bento,O.P.

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Maria



Imagens e ditos curiosos
15.06.2008, Frei Bento Domingues, O.P.
Já em 1940 Salazar declarava com solenidade: "Português, logo católico"

1O cardeal-patriarca, D. José Policarpo, deu notícias acerca da sua diocese. Parece que não há motivos nem para exaltações nem para depressões religiosas (1).


A recepção que algumas tiveram, na primeira página do semanário Expresso (07/06/2008), é curiosa: um padre novo, de livro na mão, diante de três velhinhas, num espaço cheio de bancos vazios. Por baixo, pode ler-se: "A Diocese de Lisboa perdeu qualquer coisa como 70 a 100 mil praticantes nas missas dominicais desde 2001. Nessa altura, os católicos praticantes rondavam os 200 mil, quase 10 por cento da população abrangida pela diocese da capital." Ao remeter para a página 30, a notícia recebe um título rotundo: Diocese perdeu metade dos fiéis. Voltando à primeira página, a foto referida - depressiva, quase niilista - é, afinal, de uma missa em Mértola com este esclarecimento: "A diminuição do número de praticantes em Lisboa é o reflexo do que se passa no resto do país, onde os fiéis são cada vez mais velhos".

Vem, depois, o alívio. Interrogado pelo Expresso, o relator do inquérito admitiu uma quebra de fiéis nas missas de domingo compensada pela "purificação", ou o aumento da qualidade, dos participantes, ou seja, quem está, está porque quer, consciente e sem pressão social".
A ideia de poucos, mas bons não é original. Já em 1970 Joseph Ratzinger previa uma Igreja cada vez mais pequena. Não poderá encher muitas das construções que foram criadas no período de grande esplendor. Ao contrário do sucedido até agora, será uma comunidade de voluntários, de puros, que "há-de reflorir e aparecer aos homens como pátria que lhes dá vida e esperança para além da morte" (2).

2Em maré de inquéritos ou de estudos sobre o catolicismo português, o PÚBLICO (10/06/2008) foi mais generoso. Na primeira página, somos informados: a maioria pensa que "ser português é ser católico". Os dados de um estudo internacional revelam que mais de dois terços dos portugueses consideram a religião um factor de identidade nacional, muito mais do que em outras nações da UE. Nas páginas 6 e 7, vêm apresentados e comentados os números. Os próprios investigadores, que o PÚBLICO consultou sobre os resultados de um inquérito sobre a nossa identidade nacional - como realça José Manuel Fernandes, no editorial -, ficaram surpreendidos com o elevado número de portugueses que associa a sua nacionalidade ao catolicismo. Salazar não precisou de tanto esforço. Já em 1940 declarava com solenidade: "Português, logo católico" (2).

D. Jorge Ortiga - presidente da Conferência Episcopal Portuguesa -, numa longa entrevista à Família Cristã, sublinha que a nossa cultura tem matriz católica. O seu discurso é particularmente dirigido aos 90 por cento que se dizem católicos, para que acordem, não se deixem mover por princípios de ateísmo, não cruzem os braços e sejam capazes de uma intervenção mais activa. É uma linguagem voltada para dentro. Parece não se comover com a parábola evangélica do pastor que anda à procura da "ovelha perdida". Isto não o impede de reconhecer que o catolicismo é uma religião da proximidade: os sacerdotes, se estiverem atentos, se tiverem a predilecção pelos mais pobres, pelos mais sozinhos, pelos mais abandonados, sabem que estão a desempenhar o papel que Deus pede à Igreja portuguesa, nos tempos que correm.

3Em função do tema do sínodo dos bispos em Outubro próximo - A Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja - D. José Policarpo decidiu lançar um inquérito para avaliar a importância que os católicos praticantes, da Diocese de Lisboa, dão à Bíblia. A conclusão não é desastrosa nem brilhante. Não é desastrosa, porque a maioria dos católicos de Lisboa já tem a Bíblia em casa. Poucos a lêem. É a bela adormecida!

Não estamos, porém, no ponto zero. Como esquecer a sabedoria do dominicano Frei Raimundo de Oliveira - entre outros - que iniciou gerações de padres, freiras e leigos no gosto pela leitura inteligente da Bíblia? Toda a honra e glória devem ser dadas aos irmãos capuchinhos que, há mais de 50 anos, apostaram em inverter a nossa tradição de um catolicismo sem Bíblia.
Mas cuidado. A Bíblia pode ser o pior dos venenos. Não só por aquilo que alguns chamam os maus exemplos de Deus e suas narrativas escandalosas, mas sobretudo pelas leituras fundamentalistas que se perpetuam nas Igrejas e movimentos protestantes mais activos e fervorosos - embora sem exclusivo - com efeitos devastadores, no confronto com as novas expressões da cultura e da ciência. Nunca será de mais recomendar A Interpretação da Bíblia na Igreja, da Comissão Pontifícia Bíblica.

O cardeal Martini, bispo emérito de Milão, que muitos desejavam como Papa, nunca abandonou a condição de exegeta profissional colocada ao serviço da pastoral e do diálogo cultural e
religioso. A Bíblia não é, para ele, uma bela adormecida, mas a vigilante da casa de Deus que o liberta para o confronto com os pro-blemas mais candentes da Igreja e da sociedade. Os seus Colóquios Nocturnos em Jerusalém (Herder, Alemanha) estão a provocar um abalo no fundamentalismo da moral sexual e familiar, dependente da humanae vitae.

(1) Carta Pastoral à Igreja de Lisboa; Normas sobre a celebração dos sacramentos e sacramentais
(2) Joseph Ratzinger, Fé e Futuro, Petrópolis, Vozes, 1971, pp.76-77.
(3) 01iveira Salazar, Discursos, Vol. IV.
in Público










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