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A Carta da Compaixão Frei Bento

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Maria



A Carta da Compaixão
Frei Bento - 20091122
A Carta transcende as diferenças religiosas, ideológicas e nacionais para se tornar num instrumento de mobilização global1.No passado domingo, na mesquita junto à Praça de Espanha, por iniciativa, acção e amabilidade de Abdool Vakil, presidente da Comunidade Islâmica, foi possível reunir representantes de muitas religiões, ateus e agnósticos - não me recordo de participar, em Lisboa, numa assembleia tão diversificada - para reagir a um documento internacional chamado "Carta da Compaixão" (Charter for Compassion). Como em Portugal ainda é muito pouco conhecido, importa perceber como nasceu e o que pretende.
John E. Fetzer (1901-1991), pioneiro na construção de meios de comunicação, onde enriqueceu, fundou o Instituto Fetzer, com sede em Kalamazoo (Michigan), com a missão de "promover a consciência do poder do amor e do perdão na comunidade global emergente, baseado na convicção de que os esforços para abordar as questões importantes, no mundo, devem ir além das estratégias políticas, sociais e económicas, para atingir as raízes psicológicas e espirituais".

O Prémio TED (Tecnologia Entretenimento e Design) surge como um evento, sem fins lucrativos, dedicado às "ideias que vale a pena divulgar". Desde 2005, com o apoio do Instituto Fetzer, reúne, em conferência anual, os mais fascinantes pensadores e realizadores do mundo que são desafiados, durante quatro dias, a uma viagem pelo futuro. São atribuídos prémios a três pessoas excepcionais que, em 18 minutos, apresentem "um desejo para mudar o mundo".

Em 2008, a escritora inglesa, Karen Armstrong (1944 -) recebeu este prémio por ter lançado, com base na "regra de ouro", tanto na sua formulação positiva como negativa, central em todas as religiões - quase sempre apresentadas como focos de guerras -, o desejo e o projecto daquilo que veio a ser a Carta da Compaixão. A participação global - pessoas de todas as nações, origens e credos - no processo aberto da sua redacção era um ponto de partida e uma exigência essencial. E assim aconteceu. Com esse método, a Carta consegue transcender as diferenças religiosas, ideológicas e nacionais para se tornar num instrumento de mobilização global.

2.A "regra de ouro" que Karen Armstrong (na foto) descobriu, com espanto, no coração das diferentes tradições religiosas, éticas e espirituais - embora formulada com pequenas diferenças e explicitada de várias maneiras na sua intervenção - costuma exprimir-se de forma negativa: não faças aos outros o que não desejas que outros te façam e, de forma positiva, faz aos outros o que desejarias que os outros te fizessem (1).

É este princípio que serve de guia a toda a Carta da Compaixão. As palavras dependem muito do seu uso e a "compaixão" evoca, para algumas pessoas, aquilo que, precisamente, não querem dos outros, isto é, comiseração, pena, situação de coitadinhos ou coitadinhas. Não entrando pela via do sentimentalismo e sem recorrer às etimologias que tem nas diferentes línguas, a compaixão não é apenas a recusa da indiferença. Impele a trabalhar, sem descanso, para aliviar o sofrimento do próximo, a destronar o nosso eu do centro do mundo, para aí colocar os outros. Ensina-nos a reconhecer o carácter sagrado de cada ser humano e a tratar cada pessoa, sem excepção, com respeito, equidade e absoluta justiça.

A Carta convoca todos os homens e mulheres a recolocar a compaixão no centro da moral e das religiões, a retomar o antigo princípio de que são ilegítimas todas as interpretações das Escrituras que geram violência, ódio ou desprezo, a garantir aos jovens informações precisas e respeitosas acerca das outras tradições, religiões e culturas, a incentivar uma visão positiva acerca da diversidade cultural e religiosa, a cultivar uma inteligência compassiva perante o sofrimento de todos os seres humanos, mesmo dos considerados inimigos.

3.Esta Carta não pretende lançar uma nova organização. Já existem centenas, em todo o mundo, a trabalhar, incansavelmente, em nome da compaixão e do diálogo não só inter confessional, mas envolvendo todas as pessoas de boa vontade. O seu objectivo é fazer ressaltar o esforço de todos esses grupos e movimentos para aumentar a visibilidade do seu trabalho e torná-los contagiantes. A Carta pretende mostrar, de forma activa, que a voz do negativismo e da violência, muitas vezes associada à religião e às religiões, é apenas de uma minoria e que a voz da compaixão é, pelo contrário, a voz da grande maioria.

Em Portugal, como em muitos outros espaços, apanhámos o comboio em andamento, sem participar na elaboração desse pequeno e precioso texto sobre uma nascente escondida na floresta das grandes religiões, das grandes elaborações morais, muitas vezes ocupadas e preocupadas com discussões sem fim acerca de construções doutrinais e esquecidas do coração da vida. Que fazer para lhe imprimir uma dinâmica que envolva pessoas, grupos, organizações e movimentos para colaborar em tudo o que os une, respeitando e reforçando as diferenças que exprimem uma abundância de vida e de vontade na transformação do mundo?

(1) Temas &Debates traduziu, desta escritora, desde 1998 até 2009: Uma História de Deus; Jerusalém: Uma Cidade, três Religiões; O Islamismo: História Breve; Buda; Grandes Tradições Religiosas. Na Ed. Teorema apareceu Uma Pequena História do Mito.



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