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Para que haja igualdade-Frei Bento

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Maria



Para que haja igualdade
Frei Bento Domingues O.P. - 20090628

Não se ultrapassam as consequências de duas guerras mundiais com receitas de eurocépticos num clima de crise global

1.Depois de vários ensaios e debates, em 2005, a Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (Comece) publicou um documento com o título O Futuro da União Europeia e a Responsabilidade dos Católicos. Nasceu no contexto do alargamento da União a 25 Estados-membros que, em 2006, passou para 27. Trata-se de um texto com ambições pedagógicas, para continuar a ser trabalhado em grupo, no seio de paróquias, movimentos ou universidades. Devia ser um ponto de partida, um estímulo ou uma ajuda para uma reflexão pessoal ao serviço da Europa em evolução, em ordem a uma consciência comum e a uma verdadeira cidadania europeia, aberta ao mundo e com uma responsabilidade especial em relação a África. Não tenho elementos para saber qual foi o impacto deste programa de trabalho nas diversas dioceses europeias.

Como é sabido, as eleições para o Parlamento Europeu não se centraram, como deviam, nas tarefas da construção europeia. Acirraram, sobretudo, as querelas internas e o egoísmo de cada país. Parece que se esqueceu que não se ultrapassam as consequências de conflitos herdados de vários séculos e de duas guerras mundiais com receitas de eurocépticos num clima de crise global. Tendo isto em conta e dadas as responsabilidades de grandes dirigentes católicos no arranque e no desenvolvimento da integração europeia, importa prosseguir esse trabalho espiritual, cultural e político, para não trair aqueles que criaram esta novidade histórica sem paralelo, de liberdade e solidariedade.

2.Ao saudar os representantes da fundação religiosa Centesimus Annus - Pró-Pontífice, que promove o conhecimento da doutrina social da Igreja, Bento XVI revelou: "Como sabem, a minha encíclica será publicada em breve e será dedicada ao amplo tema da economia e do trabalho: nela, serão postos em evidência o que para nós, cristãos, são os objetivos a prosseguir e os valores a promover e defender sem descanso, a fim de realizar uma convivência humana verdadeiramente livre e solidária."
Compete ao Papa alertar os católicos para as suas responsabilidades na sociedade, na qual devem defender os mais débeis e marginalizados.

A Comissão Nacional Justiça e Paz (CNJP) promove, no dia 4 de Julho, um seminário de evidente actualidade sobre Crise Ética na Economia e na Política. Talvez se estranhe a ausência, entre os conferencistas, de personalidades do "grupo dos 28". Não basta, porém, a divulgação ruidosa de um apelo e de um manifesto, politicamente identificáveis, para tornar os autores indispensáveis em todas as circunstâncias. Seja como for, esse manifesto pode ser lido em sinopse com o texto de Vital Moreira, as cartas ao director de António Pinho Vargas e de Ricardo Charters d'Azevedo (PÚBLICO 23/6/2009) e também com a crónica de Rui Tavares (Ib. 24/06/2009).

É verdade que o mundo dos economistas e dos gestores talvez tenha perdido alguma aura de que gozava antes da "crise". No entanto, Agustina Bessa-Luís já escrevia, numa carta de 1968, a Eduardo Lourenço, algo que não resisto a transcrever: "Imagine, tenho lido coisas de uma aridez simpática sobre economia. Visto que o homem económico tem de substituir o homem bélico, eu quero estar ao corrente dessa nova bélica dos povos. E tenho pensado que a economia é a intriga estruturada no infanticídio das grandes ideias. O homem económico não tem ideias, tem só actividades operantes no campo do medo, do descrédito, da vertigem" (JL, 17 a 30/6/2009).

3.Dir-se-ia que, no Vaticano, há horror ao vazio: ainda não tinha terminado a vindima do Ano Paulino, já estava feita a sementeira do chamado Ano Sacerdotal. Ao dizer "chamado" Ano Sacerdotal, quero destacar os equívocos a que está exposta a designação pastoral deste próximo ano, que os próprios bispos portugueses se encarregaram de desfazer: "A Igreja de Cristo é toda ela um povo sacerdotal. A vida e o ministério dos sacerdotes ordenados nascem do povo sacerdotal e a ele se destinam, em dedicação plena de alma e coração."

Esta dedicação, a exemplo de Paulo, não pode ficar apenas no plano espiritual. A situação social e económica das comunidades e a solidariedade entre elas nunca é esquecida pelo Apóstolo. Nesse campo, é capaz de todas as astúcias da retórica. Depois de lembrar a prontidão e a alegria na partilha que observa nas comunidades pobres, diz aos coríntios: "Já que sobressaís em tudo - na fé, na eloquência, na ciência, em toda a espécie de atenções e na caridade que vos ensinámos - deveis também sobressair nesta obra de generosidade. Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que era rico, fez-se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza.

Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros, mas sim de procurar a igualdade. Nas circunstâncias presentes, aliviai com a vossa abundância a sua indigência para que um dia eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância. E assim haverá igualdade, como está escrito: "A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou" (2Cor 8, 7-15).
Esta é uma das boas fontes da doutrina social da Igreja.


in Público

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