Sábado. O relógio do carro marcava meia-noite e quarenta e quatro minutos. Nuno, estaciona, estaciona…rápido, eles estão ali, ‘tou a vê-los.
Fora assim que começara uma ideia deslumbrante. Estivéramos num concerto de bandas de alunos cá do colégio e graças a patrocínios, comida e bebida não faltaram. Quando o guitarrista se despediu do público, e o público se despediu de nós, reparámos que tínhamos ainda, connosco, uma quantidade gigante de pacotes de batatas fritas, sumos caprisone e sandes. Entre as arrumações, ela teve uma ideia. O que é que acham? – perguntou ela. Respostas prontas e disponíveis. Fui buscar o carro e carregámo-lo o mais que pudemos. A Filipa, o Tomás, a Rita, o Bernardo, a Joana e eu arrancámos para a Praça do Comércio. Nuno, estaciona, estaciona…rápido, eles estão ali, ‘tou a vê-los. Vamos lá. A agitação dentro do carro era grande. Malta, malta preciso de três sandes, um caprisone e duas águas, eles têm sede! Rápido!... Era uma oportunidade para estar de perto com eles. Os sem-abrigo. Enquanto lhes distribuíam a comida, fiquei no carro ao volante, mal estacionado em cima do passeio e com os quatro piscas ligados. Era importante dar e não despachar, o que sobrara de uma noite bem passada. Na paragem seguinte quis sair e fui ter com eles, não quis acordá-los. Não vi a cara de nenhum, mas somente cobertores e caixas de papelão. Queríamos que eles tivessem a surpresa de acordar com comida ao lado. De outros (dos que acordavam com os nossos passos) ainda ouvimos algumas queixas. Estou sozinho e preciso que uma gaja venha p’ra cama comigo – afirmou um. Outra recebeu comida, enquanto se injectava. Que c-e-n-a… – pensei demoradamente.
O silêncio ocupou-se de mim, que já na minha casa e cansado, consegui apenas articular uma frase. A noite gostou de sair com eles.
Nuno Branco
http://toquesdedeus.blogspot.com/
Fora assim que começara uma ideia deslumbrante. Estivéramos num concerto de bandas de alunos cá do colégio e graças a patrocínios, comida e bebida não faltaram. Quando o guitarrista se despediu do público, e o público se despediu de nós, reparámos que tínhamos ainda, connosco, uma quantidade gigante de pacotes de batatas fritas, sumos caprisone e sandes. Entre as arrumações, ela teve uma ideia. O que é que acham? – perguntou ela. Respostas prontas e disponíveis. Fui buscar o carro e carregámo-lo o mais que pudemos. A Filipa, o Tomás, a Rita, o Bernardo, a Joana e eu arrancámos para a Praça do Comércio. Nuno, estaciona, estaciona…rápido, eles estão ali, ‘tou a vê-los. Vamos lá. A agitação dentro do carro era grande. Malta, malta preciso de três sandes, um caprisone e duas águas, eles têm sede! Rápido!... Era uma oportunidade para estar de perto com eles. Os sem-abrigo. Enquanto lhes distribuíam a comida, fiquei no carro ao volante, mal estacionado em cima do passeio e com os quatro piscas ligados. Era importante dar e não despachar, o que sobrara de uma noite bem passada. Na paragem seguinte quis sair e fui ter com eles, não quis acordá-los. Não vi a cara de nenhum, mas somente cobertores e caixas de papelão. Queríamos que eles tivessem a surpresa de acordar com comida ao lado. De outros (dos que acordavam com os nossos passos) ainda ouvimos algumas queixas. Estou sozinho e preciso que uma gaja venha p’ra cama comigo – afirmou um. Outra recebeu comida, enquanto se injectava. Que c-e-n-a… – pensei demoradamente.
O silêncio ocupou-se de mim, que já na minha casa e cansado, consegui apenas articular uma frase. A noite gostou de sair com eles.
Nuno Branco
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