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É crível nosso anúncio missionário da Palavra? (Comentários sobre o XXIV Capítulo Geral)

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Maria



É crível nosso anúncio missionário da Palavra?
(Comentários sobre o XXIV Capítulo Geral)

Uma das palavras-chave que apareceram no XXIV Capítulo Geral foi “Credibilidade”. As novas sociedades, mesmo caracterizadas por uma acentuada fome e sede de espiritualidade, já não aceitam como crível o modo como a religião apresenta suas propostas e o mundo vai-se transformando num deserto espiritual. Perdemos a credibilidade do nosso discurso.
No retiro de abertura do Capítulo, refletimos sobre a tarefa que têm hoje a Igreja, a Vida Religiosa e a Congregação de redescobrir os elementos essenciais de sua espiritualidade. Aliás, esta deve ser a tarefa frequente de cada geração: Recriar a fé para reafirmar a credibilidade de seu testemunho. É urgente, oportuno e efetivamente necessário que sejam recriados, reinterpretados e intensamente vividos os elementos característicos de nossa espiritualidade carismática, para que os destinatários da nossa missão sintonizem-se plenamente com ela.

Há uma novidade intrínseca nos conteúdos essenciais de nossa espiritualidade missionária que precisa ser mais bem percebida por nós. “As experiências do Espírito não são recebidas somente para serem conservadas, mas, para serem aprofundadas e desenvolvidas, em docilidade à sua ação sempre nova e criadora” (XXIV Cap. Geral 28). Se estivermos mais conscientes da novidade e do poder do carisma que recebemos do Espírito, na Congregação, cumpriremos mais eficazmente nossa missão. O mundo poderá ser incendiado no fogo do Divino amor e experimentar a força vital da mensagem que anunciamos. Entendo que o XXIV Capítulo Geral constata a necessidade de redescobrir hoje o significado da nossa vocação missionária, para facilitar a recuperação da credibilidade do anúncio que se perde. Trata-se do desafio de uma renovada tomada de consciência de nossa própria identidade.

A etapa do “Ver a Realidade” do Capítulo abordou questões urgentes da atual conjuntura mundial que repercutem na nossa vida e missão. O pano de fundo desta etapa foi, em minha opinião, a questão da perda de credibilidade da palavra anunciada, cujas respostas oferecidas às perguntas que o povo faz não encontram ressonâncias que satisfaçam sua sede e fome de dar significado às contingências da vida, com suas alegrias e tragédias. Constata-se que o povo apresenta uma considerável necessidade de espiritualidade, mas o que lhe oferecemos não lhe faz sentido e não responde satisfatoriamente a suas interrogações e expectativas.

Daí que as primeiras perguntas que ressoaram na sala capitular foram:
-O que acreditamos necessitar a Congregação, em seu serviço da Palavra, para o resgate da credibilidade?
-Como ressituar e viver intensamente nossa vocação missionária claretiana hoje?
No meu grupo de trabalho houve uma insistência em apontar a Palavra de Deus como elemento essencial das mediações que proporia o Capítulo nas conclusões de seu processo de discernimento, iniciado na reunião dos superiores maiores de Jundiaí.
É motivado pela força da Palavra contemplada na unção do Espírito que o Fundador compreende o seu ministério como mandato missionário para “Incendiar o mundo inteiro no fogo do Divino amor”. Ele recolhe a intuição do amor dos Escritos Joaninos e entende o tamanho imenso do coração de Deus ferido pelo amor: Coração do Pai que ama, salva e não condena seus “filhinhos”, esperando deles um testemunho que incendeie o mundo no fogo da caridade para que “todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida” (cf Jo 3,16). Por isso o XXIV Capítulo Geral coloca exatamente no centro de sua reflexão a “Definição do Missionário” que arde de amor e abrasa por onde passa.

O capítulo 30 da Autobiografia trata sobre o amor. Claret começa o Capítulo afirmando: “Sim, digo-o e repetirei mil vezes que a virtude mais necessária ao missionário é o amor” É dele a idéia de que, sem a experiência do amor de Deus, a Jesus e ao próximo, as mais belas qualidades do missionário são absolutamente inúteis para favorecer o Reino e constroem a aparência, mas não o Reino de fato. Escrevendo sobre o amor, ele ouve uma voz que lhe diz: “O homem necessita de alguém que lhe esclareça quem ele é, que o instrua acerca de seus deveres, que o dirija para a virtude, renove seu coração, que o restabeleça em sua dignidade e em seus direitos; e isto tudo se faz por meio da Palavra” (Aut 449).

Em seguida o Fundador observa que o padecimento das sociedades ocorre porque a Igreja está privada de sua Palavra, que é Palavra de Vida, Palavra de Deus: “As sociedades estão desfalecidas e famintas por não receberem o pão cotidiano da Palavra de Deus. Todo propósito de salvação será estéril se não se restaura, em toda a plenitude, a grande palavra católica” (Aut 450).
Talvez o problema da credibilidade que se constata, uma certa falta de frutuosidade da missão, não seja tanto pela Palavra não pronunciada, embora não cesse a insídia dos “demônios mudos”. O Capítulo Geral me dá a entender que o maior problema é o da Palavra que pode ser pronunciada sem testemunho e, portanto, sem a credibilidade esperada. Um anúncio que não dá frutos para o Reino. Está, pois, proposto um significativo desafio capitular: Buscar a maior credibilidade possível do nosso serviço missionário da Palavra, hoje.

Surgem, assim, perguntas que nós, claretianos, deveremos ir tentando responder ao passo da assimilação dos conteúdos da Declaração Capitular:
-O que preciso melhorar em nível pessoal e comunitário, como missionário chamado a ser claretiano na Igreja ao serviço frutuoso do anúncio profético do evangelho no mundo de hoje?
-O que acentuar para que nossa comunidade, nossa Província e Congregação não sejam estéreis, mas críveis no seu apostolado, como o exigem as sociedades atuais?
-Será que já percebemos que, além daqueles que nos cercam em nossas obras apostólicas, há uma multidão de pessoas, uma sociedade que não decodifica mais os conteúdos de um serviço da Palavra distante do coração e incoerente com a vida de quem os prega?

Oportunamente, lembro-me aqui da primeira linha de ação do atual Plano de Governo da Província para a área de espiritualidade: Cita o Documento de Aparecida 248, que propõe uma aproximação às Escrituras que não seja somente intelectual, exegética, externa ou meramente instrumental, dissecada sem o Espírito, mas uma aproximação efetiva, com a alma aberta e determinada a acolher a mensagem da vida com “um coração faminto de ouvir a Palavra do Senhor” (Am 8,11).

A Declaração Capitular, na parte sobre as prioridades para o próximo sexênio, quando fala de “Inflamar os Outros”, cita o Evangelho de Lucas: “Eu vim lançar fogo à terra, e que tenho eu a desejar se ele já está aceso?” (Lc 12,49) e propõe fazer com que a Palavra de Deus anime nossa vida e missão em todas as suas expressões, convertendo nossas comunidades, centros formativos e posições apostólicas em verdadeiras “escolas da Palavra”.

“E quando a terra estiver inflamada inteiramente, nós – humildes colaboradores d’Aquele que veio trazer fogo- descobriremos o que agora suspeitamos: que o amor que nos seduz tem nome divino e nunca é anônimo (cf Mt 25,35-44); que tudo o que é humano e humaniza tem muito a ver com Deus. Quando nosso corpo se debilita e nossa capacidade de ação fica limitada, nós – servidores itinerantes da Palavra que não passa – não deixamos de ser missionários. Podemos, então, “gloriar-nos da cruz de Jesus Cristo”, como testemunhas críveis do fogo que se acendeu em nós.” (XXIV Cap. Geral 49).

Júlio César Melo Miranda, CMF
Prefeito Provincial de Espiritualid
ade study[i]

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