Definiu-se o Homem como “um ser para a morte”.
Atingi a idade onde sei que este dia, para o qual nasci, está próximo.
E eu não digo senão com S. Paulo:
“Desejo partir e viver com Cristo” (Flp 1, 21).
Sei que esse momento será o de maior Graça da minha vida!
É por Deus que sou criado, criado mortal.
Ora, Ele é o meu Pai.
Um Pai não gera uma criança a fim de lhe dar a morte!
Se, por criação, Ele me destina a morrer, é para me fazer nascer.
O inimigo da criação de Deus é que perverteu o sentido da morte...
Quando pelo pecado o Homem se corta da Vida de Deus,
a morte torna-se nele o contrário dela própria,
ou seja, torna-se verdadeiramente mortal.
Mas Jesus salva os Homens “salvando a morte”,
isto é, restabelecendo-a na sua dignidade original.
Jesus “entregou-se por mim” (Gal 2, 21), morreu santamente, de morte filial,
e salva-nos da morte mortal, liberta-nos da morte que mata,
assumindo-nos no seu morrer para o Pai:
“Felizes os que morrem no Senhor!” (Ap 14, 13).
Ele disse: “Eu sou o caminho… Ninguém chega ao Pai senão por mim” (Jo 14, 6).
Ele disse: “Eu sou a Porta; ninguém entra sem passar por mim” (Jo 10, 7).
Eis que chegou a Hora de pôr-me a Caminho e de entrar pela Porta aberta.
Por mim mesmo eu não saberia cruzar a distância da Terra ao Céu, que é infinita.
Tanto mais que, na morte, serei reduzido à fraqueza radical.
Mas Jesus estará lá, “Caminho Vivo” (Hb 10, 20) e Porta Aberta,
“Cristo nossa Páscoa” (1Cor 5, 7),
Jesus o meu “passador”.
Atrair-me-á a si e me inCorporará ao seu próprio “morrer para o Pai”.
A minha morte já foi ensaiada na sua!
Por isso, eu só me quero entregar a ele.
Ele será o meu salvador, como foi para Pedro, na noite e na tempestade.
Tinha saído do barco, da segurança do seu barco
e tinha-se arriscado sobre as ondas da morte.
Jesus está lá.
No momento em que Pedro se afunda ele diz-lhe: “Não tenhas medo!”,
estende-lhe a mão e puxa-o até si.
Da mesma maneira, será Jesus quem me fará passar do mundo ao Pai,
será ele quem me fará morrer para o Pai:
“Se cremos que Jesus morreu e ressuscitou,
do mesmo modo os que morreram com Jesus,
Deus os ressuscitará com ele”.
Porque este Jesus a quem me juntarei na minha morte,
ele mesmo foi na sua morte que foi ressuscitado.
Eu morrerei na sua morte!
Ele vive para sempre a ocupar o seu lugar junto do Pai que o glorifica.
Ele vive para sempre no mistério da sua morte, da sua entrega para o Pai.
Ele vive continuamente no instante do dom de si mesmo
em que ele é gloriosamente recebido pelo Pai.
Ele é eterno no momento supremo do seu amor (Jo 15, 13),
em que o Pai o abraça na plenitude do Espírito Santo.
Jesus me unirá a si e morreremos a dois para o Pai.
Suprema comunhão pascal!
A morte do filho para o Pai é imensa,
uma morte de uma potência ilimitada,
rio capaz de conduzir até Deus todos estes “seres para a morte” que são os Homens.
Jesus matou na sua morte a morte de todos os Homens.
Eu o aguardo: morrerei na morte filial do meu Salvador!
François Durrwell cssr
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